Histórias do Mundo



Ali Babá e os 40 ladrões


     


Numa cidade da antiga Pérsia [atualmente, Irã] viviam os irmãos Cassim e Ali Babá. Cássim era um dos comerciantes de tecidos mais ricos da cidade, mas Ali Babá vivia na pobreza e tinha de cortar lenha numa floresta para sustentar a família.

     Um dia Ali Babá estava cortando lenha quando viu uma nuvem de poeira. "— Que será isso?" — pensou. Percebeu que se tratava de homens a cavalo que se aproximavam e vinham em sua direção; com medo que fossem bandidos, subiu numa árvore, junto a uma grande rochedo, e se escondeu em meio à folhagem.

 

    Do alto da árvore podia ver tudo sem ser visto. Então chegaram àquele lugar quarenta homens muito fortes e bem armados de espadas, com caras de poucos amigos. Ali Babá os contou e concluiu que eram quarenta ladrões.


     Os homens desapareceram dos cavalos e puseram no chão sacos pesados que continham ouro e prata. O mais forte dos ladrões, que parecia ser o chefe, aproximou-se da rocha e disse:
— Abre-te, Sésamo !

    Assim que essas palavras foram pronunciadas, abriu-se uma porta na caverna. Todos passaram por ela e entraram na caverna, e a porta se fechou novamente. Depois de muito tempo, a passagem da caverna voltou a se abrir, e por ela saíram os quarenta ladrões. Quando todos estavam fora, o chefe disse:

— Fecha-te, Sésamo !

Os bandidos colocaram os sacos em suas montarias e voltaram pelo mesmo caminho pelo qual tinham vindo.
Ali Babá os seguiu com os olhos até desaparecerem. Quando se viu em segurança, e ninguém por perto, desceu da árvore, dirigiu-se à rocha e disse:

— Abre-te, Sésamo !

A porta se abriu e Ali Babá ficou sem palavras diante do que seus olhos viram: uma grande caverna cheia dos tecidos mais finos, tapetes da Pérsia, belíssimos,  e uma enorme quantidade de moedas de ouro e prata dentro de sacos.

     Ali Babá entrou com os três burros que costumava levar quando ia cortar lenha, e a porta imediatamente se fechou atrás dele. O rapaz carregou os animais com sacos de moedas de ouro e jóias, depois disso, pronunciou as palavras mágicas que abriam e fechavam a porta da caverna e foi em direção à cidade. (Fecha-te Sésamo!)


     Quando viu o ouro, sua mulher pensou que o marido tinha-se tornado um ladrão, mas ele contou tudo o que acontecera, recomendando-lhe que mantivesse segredo absoluto a respeito daquela história e não a contasse a ninguém. Quando Ali Babá falou em esconder as moedas num buraco, a mulher, então, disse:

— Boa ideia, mas antes quero contar quantas moedas de ouro temos. Vou pedir um medidor ao vizinho, enquanto você cava o buraco.

O vizinho era, justamente, Cassim, irmão de Ali Babá, que não estava em casa. Ela, então, pediu à mulher dele o medidor emprestado: uma espécie de concha grande, com a qual se calculavam as medidas de açúcar e outros mantimentos. Cheia de desconfiança, a cunhada pensou:

— Que coisa mais estranha! Para que querem um medidor? O que é que a mulher de Ali Babá está querendo contar naquela casa tão miserável?

Para descobrir o que era, decidiu untar (melecar) com cola o medidor; talvez um pouco daquilo ficasse grudado sem que ninguém percebesse...

Enquanto Ali Babá cavava, sua mulher calculou as medidas de ouro; depois, foi devolver o medidor à vizinha sem perceber que uma das moedas ficara presa e colada. A vizinha viu a moeda de ouro, ficou espantada, ardeu de inveja e, quando o marido chegou a casa, disse-lhe:

— Você pensa que é rico, Cassim, mas Ali Babá, seu irmão, é muito mais: até calcula quantas medidas de ouro tem!

Cassim também foi tomado pela inveja e nem pôde dormir aquela noite. No dia seguinte, foi até a casa do irmão disposto a esclarecer aquilo tudo. Lá, até ameaçou denunciar Ali Babá à polícia, se ele não lhe contasse tudo. Ali Babá, então, acabou por contar o que lhe acontecera; depois, pediu segredo ao irmão, prometendo-lhe, em recompensa, uma parte do tesouro. Cassim concordou e se despediu do irmão. Mas na manhã seguinte, bem cedo, Cassim dirigiu-se à caverna sozinho, com dez burros, disposto a voltar carregado de ouro. Ao chegar à porta da rochedo, disse:

— Abre-te, Sésamo!

A porta se abriu, Cassim entrou e ela se fechou de novo atrás dele. Que surpresa e contentamento sentiu quando a sua frente pôde ver tesouros que ele nem em sonho poderia imaginar!
 Apoderou-se de tudo o que podia levar, carregando os burros, e, ficou tão extasiado que, quando foi sair, disse:

— Abre-te, Cevada!

  Mas a porta continuou fechada. Foi então que ele se deu conta de que esquecera qual era a palavra mágica para abrir a passagem. Apavorado, tentou outras frases, mas nada, não conseguia acertar! E ficou preso lá dentro da caverna. Por volta do meio-dia, os ladrões retornaram à rocha. Pronunciaram as palavras mágicas e entraram.


Ao verem Cassim, ficaram furiosos e imediatamente o mataram. Depois, interrogaram-se surpresos: como aquele homem conseguira entrar? Como descobrira o segredo? Para que ninguém ousasse sequer se aproximar da rocha novamente, cortaram o corpo de Cassim em quatro partes e o deixaram pendurado lá dentro.

A esposa de Cassim ficou muito preocupada quando viu cair a noite sem que seu marido regressasse.
Foi à casa do cunhado e expressou seus temores. Ali Babá, suspeitando de que algo grave acontecera ao seu irmão, foi para a caverna. Quase desmaiou quando viu o corpo do irmão cortado em pedaços. Recolheu-os em dois sacos e voltou para a cidade com a intenção de sepultá-los.

Os quarenta ladrões ficaram espantados ao retornar à caverna e não avistarem o corpo de Cássim. O chefe disse ao bando:



— Estamos perdidos! Precisamos dar um jeito nisso, ou perderemos todas as nossas riquezas. O corpo desaparecido mostra que duas pessoas conseguiram descobrir nosso segredo: liquidamos uma delas, agora precisamos acabar com a outra.
    Um dos ladrões se dispôs a ir à cidade, encarregando-se da missão de descobrir quem era a pessoa que sabia do segredo. Se falhasse, seria morto por seus colegas bandidos, que, despedindo-se dele, elogiaram muito sua bravura.

   Havia um sapateiro na cidade, muito trabalhador e querido, chamado Mustafá. Ali Babá o encarregara de costurar o corpo do irmão Cássim para o enterrar com decência. Por uma infeliz coincidência, foi justamente esse homem sapateiro que o ladrão primeiramente viu ao chegar à cidade de manhãzinha, pois a loja do sapateiro era a única aberta àquela hora. O ladrão o cumprimentou e disse:

— O senhor começa seu trabalho muito cedo! Na sua idade, não sei como consegue enxergar para costurar esses sapatos!
— Apesar de velho, respondeu o sapateiro, meus olhos são muito bons. Há poucos minutos costurei um morto num lugar que tinha menos luz que nesta minha loja — respondeu Mustafá.

    Contente com aquela informação, o ladrão deu duas moedas de ouro na mão do sapateiro, rogando-lhe que dissesse onde ficava a casa em que ele costurara o morto. Depois de olhar para aquelas moedas brilhantes, Mustafá acabou por concordar e levou o ladrão até a frente da casa de Cassim, que agora pertencia a Ali Babá. O ladrão pegou um pedaço de giz e fez uma cruz na porta. Depois, foi-se embora em direção à floresta.

A esposa de Cassim tinha uma empregada muito bonita e esperteza, chamada Morjana. A moça, ao sair da casa, notou o sinal e desconfiou de alguma tramóia:

— Que será isso? Que coisa mais estranha! Certamente querem prejudicar meu patrão !
    Pegou, então, um pedaço de giz e marcou com o mesmo sinal três portas à direita e mais três à esquerda.

    Os ladrões foram até à cidade e pararam diante de uma das portas que tinham a marca de giz feita por Morjana. O ladrão que tinha estado ali no dia anterior disse:

— É esta!
    O chefe dos ladrões, porém, notou que havia outras seis casas cujas portas traziam o mesmo sinal e perguntou-lhe qual era, de fato, a porta que ele tinha marcado. Confuso, o homem não soube o que responder. Voltaram todos para a floresta, e o ladrão que falhara em sua missão foi morto pelos colegas.


    Aquilo já era uma afronta! Um dos ladrões se dispôs espontaneamente a retornar à cidade e descobrir onde morava o homem que descobrira o segredo da caverna. Chegou, como o primeiro, ao raiar do dia, e topou com Mustafá. A história se repetiu: o sapateiro acabou por conduzir o ladrão até a casa de Ali Babá. Para não se confundir como o primeiro, o ladrão marcou a casa com tinta vermelha e voltou para junto dos seus comparsas. Como da outra vez, Morjana notou o sinal e marcou várias outras portas das proximidades também com tinta vermelha.

    Quando o bando rumou para a cidade, viu-se diante da mesma confusão da outra vez, e o segundo bandido encarregado daquela missão foi executado.

    Os ladrões agora eram trinta e oito. Depois daquele segundo fracasso, o chefe resolveu ele mesmo se encarregar da missão. Foi pessoalmente à cidade, encontrou Mustafá sapateiro e, diante da casa de Ali Babá, em vez de deixar algum sinal, limitou-se a observá-la cuidadosamente, examinando cada detalhe que a distinguia das outras. Depois, voltou para a floresta e pôs em execução o seu plano.

    Mandou comprar trinta e oito grandes tambores para guardar azeite. Encheu de azeite apenas um deles e, nos outros, fez com que entrassem os bandidos, fortemente armados. Em cada tambor, havia pequenos buracos para que os homens pudessem respirar.




    Com os trinta e sete tambores que serviam de esconderijo aos ladrões e mais um barril cheio de azeite, carregaram-se dezenove mulas, e lá se foi o chefe à cidade. Localizou facilmente a casa de Ali Babá, que estava na frente tomando sol. Disse-lhe:

— Venho de muito longe e vim à cidade para vender meu azeite. Mas cheguei cedo demais. A noite está caindo e eu preciso dar algum descanso para as minhas mulas. O senhor não poderia me abrigar em sua casa só por esta noite?
    Ali Babá não reconheceu o chefe dos bandidos, que estava disfarçado, e aceitou amigavelmente recebê-lo em sua casa. Mandou que Morjana preparasse para o hóspede um jantar e uma cama. Os tambores foram descarregados das mulas e colocados na garagem da casa.

    Após a refeição, Ali Babá foi dormir, e o chefe dos ladrões conseguiu às escondidas encaminhar-se para onde estavam os tambores. Disse a cada um dos seus homens que neles se escondiam:

— À meia-noite, quando ouvirem minha voz, usem suas facas e punhais para abrir a tampa dos tambores e saiam.
    Após instruir seus homens, foi ao quarto que Morjana lhe havia preparado e fingiu que dormia. A empregada foi cuidar do serviço de casa. Estava entretida com seus afazeres, quando, de repente, as luzes apagaram-se. Mas não havia azeite na casa. Que fazer? O empregado Abdullah, vendo-a toda atrapalhada, disse:

— Por que essa tempestade em copo de água? Há tantos tambores cheios de azeite na garagem! Por que você não vai lá pegar a quantidade necessária?
    Assim fez Morjana. Mas, ao se aproximar do primeiro barril, ouviu o bandido que estava escondido dentro dele perguntar, baixinho, pensando que era o chefe:

— Já está na hora?
    Assustada, Morjana ficou um tempo sem saber o que responder. Percebeu que em vez de azeite aqueles tambores escondiam bandidos perigosos. Rapidamente, pensou num meio de enfrentar aquela situação delicada. Criou coragem e, imitando a voz do chefe dos bandidos, disse:

— Ainda não é hora. Tenha paciência.
    Morjana foi de tambor em tambor, dando sempre a mesma resposta aos ladrões que lhe perguntavam se tinha chegado a hora. O último tambor continha azeite de verdade. Morjana encheu um jarro, acendeu uma lamparina e pôs em prática seu plano.

    Numa grande panela ferveu azeite. Depois, indo de tambor em tambor, derramou o líquido fervente sobre cada bandido, matando-os todos.


    À meia-noite, o chefe se levantou da cama, foi até a garagem e chamou seus homens. Não houve resposta. Sentindo cheiro de carne queimada, assustou-se. Abriu o primeiro tambor, depois o segundo e os demais — e só encontrou cadáveres. Temendo pela sua própria vida, fugiu correndo.

    De manhã, Ali Babá levantou-se e foi tomar seu banho, sem desconfiar do que se passara. Ao voltar para casa, estranhou que os tambores ainda estivessem na garagem. Morjana, então, mostrou-lhe o que eles na verdade traziam bandidos e contou o que acontecera. Ali Babá ficou muito agradecido e prometeu recompensar a empregada por ela lhe ter salvado a vida. Depois, junto com um outro empregado, tratou de enterrar os bandidos mortos numa grande fossa no cemitério da cidade. Escondeu os tambores e as armas e vendeu as mulas no mercado.

  O chefe dos ladrões voltou para a floresta, furioso e indignado, disposto a se vingar de qualquer maneira. Depois, arquitetou um plano. Com riquezas tiradas da gruta, comprou tecidos finíssimos e abriu uma loja na cidade, fazendo-se passar como comerciante Codja Hussan. A loja ficava em frente do estabelecimento que pertencera a Cássim e que agora era dirigido pelo filho de Ali Babá. O chefe dos bandidos, falso comerciante  pouco a pouco acabou por fazer com que o rapaz o considerasse seu amigo. O bandido muitas vezes o convidava para jantar.

    Um dia, o filho de Ali Babá decidiu retribuir a gentileza, convidando Codja Hussan para jantar. Ali Babá se encarregou de preparar um grande banquete para o amigo do filho. No dia combinado, o bandido, chamado para a mesa, desculpou-se dizendo que não comia comida com sal, pois assim lhe recomendara um médico. Ali Babá, então, mandou que Morjana não pusesse sal na carne que seria servida no banquete. A empregada ficou aborrecida e disse:

— Mas quem é esse homem que não come sal?

    Intrigada, quando foi ajudar a levar os pratos à mesa, lançou um olhar muito atento para o convidado. De repente, estremeceu: era o chefe dos ladrões que desejava atacar seu patrão! Por isso, não queria comer sal junto com ele. E imediatamente pensou num plano para salvar seu patrão.

    Chegada a hora das frutas, Morjana as levou junto com o vinho. O falso mercador pensava em seu plano: embriagar pai e filho e cravar um punhal no coração de Ali Babá.


    Morjana vestiu-se de dançarina, colocou um punhal no cinto e cobriu o rosto com um véu. Chamou um músico para tocar violão e os dois entraram na sala do banquete, pedindo permissão para se apresentarem. Ali Babá respondeu:

— Capriche, Morjana, e faça o melhor que puder para entreter nosso hóspede Codja Hussan!

    O hóspede fingiu estar encantado com aquela proposta que, na verdade, vinha atrapalhar seus planos. O músico pôs-se a tocar o violão e Morjana a dançar com passos e movimentos delicados. Depois, a dançarina passou para um novo tipo de dança, a que mais agradou: tomou do punhal e com ele fingiu atacar um inimigo invisível. Por fim, parou e pegou o violão para pedir aos presentes um pagamento, como faziam os dançarinos profissionais.
    Ali Babá deu-lhe uma moeda de ouro, e o mesmo fez seu filho. Quando chegou a vez de Codja Hussan, no momento em que ele pôs a mão em sua bolsa para pegar uma moeda, Morjana mais do que depressa cravou o punhal em seu coração, matando-o, pois era um monstro, não eras uma pessoa de verdade. Ali Babá exclamou:



— O que você fez? Matou um hóspede, um amigo de meu filho. Isso será a minha ruína!
    Morjana, então, contou ao patrão o que descobrira. Fez com que ele olhasse atentamente o rosto do falso mercador e reconhecesse o chefe dos ladrões. Mais uma vez, fora salvo pela empregada. Agradecido, disse:

— Você me salvou por duas vezes; agora eu lhe darei muito ouro. Mais: em recompensa por sua lealdade, você será minha nora.
    Enterraram, então, o corpo do chefe dos bandidos e, dias depois, festejou-se o casamento do filho de Ali Babá com Morjana, em meio a cantos, danças e muitas outras diversões.

    Ali Babá demorou um ano para retornar à gruta, pois ainda não sabia que todos os quarenta ladrões estavam mortos. Depois de um ano, mais tranqüilo, voltou para lá. Diante da caverna, disse:

— Abre-te, Sésamo!

    E a porta se abriu. Ali Babá notou que ninguém mais entrara na caverna; os ladrões, portanto, estavam todos mortos. Agora só ele sabia do segredo. Encheu alguns sacos com moedas de ouro e prata e voltou para sua cidade.

    Com o passar do tempo, Ali Babá contou o segredo a seu filho e depois a seus netos. Ali Babá e sua família viveram o resto de sua vida na riqueza, naquela cidade onde um dia ele fora muito pobre.

    Graças àquele tesouro, Ali Babá se tornou um homem respeitado e honrado.
 
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Vassilíssa e o Pássaro de Fogo

fonte: http://russiashow.blogspot.com.br/2011_09_05_archive.html

Em certo reino, situado nos confins da terra, vivia um czar forte e poderoso que tinha ao seu serviço um jovem arqueiro, possuidor de um belo cavalo. Uma vez, o jovem foi caçar no bosque com seu galhardo cavalo. Enquanto trotava pelo caminho ele encontrou uma pena de ouro do pássaro de fogo.
Era uma pena que brilhava feito uma chama! O cavalo avisou-o:
- Não apanhes a pena de ouro, senão terás problemas!
E o valente rapaz pensava: "Apanho-a ou não? Se a apanhasse e a oferecesse de presente ao czar, ele recompensar-me-ia generosamente". E o arqueiro não deu ouvidos ao cavalo. Apanhou a pena do pássaro de fogo e ofereceu-a de presente ao czar.
- Obrigado - agradeceu o rei. - Mas, como foste capaz de encontrar uma pena do pássaro de fogo, traz-me também o pássaro! Se não o encontrares, aqui está minha espada. A tua cabeça cairá.
O arqueiro começou a chorar amargamente e foi ter com seu belo cavalo.
Porque choras, meu amo?
- O czar mandou-me trazer-lhe o pássaro de fogo.
- Eu bem te avisei que não apanhasses a pena, pois te meterias em apuros! Deixa estar, não tenhas medo, nem fiques triste. Isto não é ainda nenhuma desgraça; a desgraça virá depois! Vai ter com o czar e pede-lhe que mande espalhar, amanhã, pelos campos cem sacos de grão.
O czar cedeu ao pedido e assim se fez.
No dia seguinte, de madrugada, o jovem dirigiu-se para os campos.
Deixou o cavalo passear livremente e escondeu-se por detrás de uma árvore. De repente a folhagem mexeu-se e as águas agitaram-se. Era o pássaro de fogo que voava muito alto, no céu. Chegou, pousou no chão e pôs-se  a bicar os grãos. O galhardo cavalo aproximou-se dele, pousou um casco em cima de uma de suas asas. segurando-a com força contra a terra.
 Nesse momento, o valente arqueiro saiu de trás da árvore, atou com uma corda o pássaro de fogo, montou o cavalo e galopou em direção ao palácio, levando-o ao czar. Ao vê-lo, o soberano mostrou-se satisfeito, agradeceu ao arqueiro o bom serviço que lhe prestara, recompensou-o fazendo-o subir de categoria e deu-lhe de imediato uma nova tarefa:
- Se foste capaz de segurar o pássaro de fogo, agora procura também minha noiva. No último dos reinos, nos confins da terra, onde o sol nasce em fogo, encontra-se a princesa Vassilíssa: é ela que eu quero. Se a encontrares, recompensar-te-ei com ouro e prata. Caso a contrário, eis a minha espada: a tua cabeça cairá.
O arqueiro foi ter com seu belo cavalo.
- Porque choras, meu amo?
- O czar ordenou-me que encontrasse a princesa Vassilíssa e a trouxesse para o palácio.
- Não chores, nem te aflijas. Isto ainda não é nenhuma desgraça. A desgraça virá depois! Vai ter com o czar e pede-lhe uma tenda com uma cúpula de ouro, comida e bebida para a viagem.
O czar deu-lhe comida, bebida e a tenda com cúpula de ouro.
O valente arqueiro montou o seu galhardo cavalo e iniciou a viagem ao último dos reinos. Depois de muito andar, chegou aos confins do mundo, onde o sol nasce, em fogo, do mar azul. Olhou com atenção e notou que no mar navegava a princesa Vassillíssa numa barquinha de prata, remando com remos de ouro. O valente arqueiro pôs o cavalo a pastar no verde prado, onde havia erva fresca. Entretanto, montou a tenda da cúpula de ouro, arrumou a comida e a bebida, sentou-se e começou a comer, enquanto esperava pela rapariga.
Vassilíssa viu a cúpula de ouro e dirigiu-se para a margem; desceu da barquinha a fim de ver melhor a tenda. 
- Olá, princesa Vassilíssa! Entrai e provai os vinhos de além mar - convidou o arqueiro.

 A princesa entrou na tenda. Começaram a beber, a comer e a divertir-se. Ela bebeu um copo de vinho de além-mar, embriagou-se e mergulhou num sono profundo. O valente arqueiro com um grito chamou o cavalo, que apareceu imediatamente. O jovem desarmou a tenda da cúpula de ouro, saltou para o cavalo, levando consigo a princesa Vassilíssa, que dormia, e pôs-se a caminho, veloz como uma flecha saída de um arco.
Chegou à presença do czar que ficou muito contente ao ver Vassilíssa e agradeceu ao archeiro o bom serviço prestado. Recompensou-o com uma grande quantia de dinheiro e conferiu-lhe uma categoria muito elevada. Entretanto, a princesa Vassilíssa acordou e percebeu que se encontrava muito longe do mar azul. Suas feições alteraram-se e ela desatou a chorar, com saudades. Por mais que o czar a consolasse, tudo foi em vão. O czar a pediu em casamento, mas ela respondeu:
- Manda ao mar azul aquele que me trouxe aqui. No meio do mar há uma grande pedra, debaixo da qual está escondido o meu vestido de noiva. Não me casarei enquanto não tiver aquele vestido.
O czar chamou logo o valente arqueiro:
- Rápido, vai aos confins do mundo, onde nasce o sol em fogo. Aí, no mar azul, há uma grande pedra, debaixo da qual está escondido o vestido de noiva de Vassilíssa. Encontra-o e traga-o aqui. Chegou o período do casamento. Se o conseguires, recompensar-te-ei ainda melhor do que antes. Caso contrário, eis a minha espada. A tua cabeça cairá.
O arqueiro, chorando lágrimas amargas, foi ter com o seu belo cavalo: "Desta vez, não escapo".
- Porque choras, meu amo? - perguntou o cavalo.
- O czar ordenou-me  que procurasse no fundo do mar o vestido de noiva da princesa Vassilíssa.
- Pois é, eu bem te disse que não apanhasse a pena de ouro, porque só te iria trazer problemas! Não tenhas medo. Isto ainda não é uma desgraça. A desgraça só virá depois! Sobe para a minha garupa e vamos ao mar azul.
Depois de muito cavalgar, o valente arqueiro chegou, então, aos confins do mundo e parou à beira do mar. O cavalo viu um enorme caranguejo que se arrastava pela areia e pôs-lhe o seu pesado casco em cima da carapaça.
O caranguejo implorou:
- Não me mates! Deixa-me viver! Farei tudo o que me ordenares!
O cavalo respondeu-lhe:
- No meio do mar azul encontra-se uma grande pedra, debaixo da qual está escondido o vestido de noiva da princesa Vassilíssa. Vai buscá-lo!
O caranguejo mergulhou e logo as águas fervilharam. Vindos de todos os lados chegavam em grande quantidade à praia pequenos e grandes caranguejos. O velho caranguejo deu-lhes uma ordem e imediatamente se lançaram à água. Uma hora depois traziam o vestido de noiva da princesa Vassilíssa.
O valente archeiro regressou para o entregar ao czar, mas de novo Vassilíssa se esquivou:
- Não casarei  contigo enquanto não ordenares ao jovem arqueiro que tome um banho em água fervente.
O czar, então, ordenou que enchessem de água uma grande banheira de ferro e que a água fosse a mais quente possível. Quando a água estivesse fervendo, que lançassem o arqueiro dentro dela.
Depois de tudo pronto, os guardas trouxeram o jovem à presença do czar.
"Que desgraça a minha! Porque não dei ouvidos ao cavalo?" - pensava o infeliz.
Naquele momento, lembrou-se do cavalo e disse ao soberano:
-"Czar soberano, permita-me que me despeça do cavalo antes de morrer!"
- Está bem, concedo-te este último desejo.
O arqueiro, então, se dirigiu chorando ao cavalo.
- Porque choras, meu amo?
- Ai de mim! O czar mandou-me tomar banho em água escaldante e eu, com certeza, morrerei.
- Não tenhas medo, não chores. Não morrerás - disse-lhe o cavalo, que rapidamente fez um feitiço ao arqueiro, de modo que a água fervente não lhe estragasse o corpo branco.
O arqueiro voltou, então, para junto do czar. Logo os guardas o amarraram e o lançaram dentro da banheira. O pobre foi ao fundo uma ou duas vezes e depois voltou para fora.
O espanto foi geral: o arqueiro tinha ficado tão belo, que não haveria pena capaz de descrevê-lo!
Quando o czar viu que o arqueiro tinha ficado tão belo, desejou banhar-se também. Mergulhou na água e, num instante, morreu. Sepultaram-no e, em sua substituição, escolheram o valente cavaleiro. Este desposou a princesa Vassilíssa e viveu com ela para sempre.
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